Client: Academia das Artes
Objetivo do texto: resenha cultural
Veículo: Instagram Academia das Artes
Data: 27/09/2020
Título: “I May Destroy You”
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O mundo no Entretenimento só fala desta série e por indicação de alguns amigxs, fui assistir. Vou confessar que foi bem difícil chegar até o quarto episódio, pois o conteúdo é pesado e as cenas são as mais reais possíveis, principalmente pelas passagens de drogas e sexo. Mas insisti e senti que é muito importante falar sobre.
A série é uma coprodução da BBC e HBO, criada, escrita, protagonizada e até co-dirigida por Michaela Coel, a obra semi-autobiográfica conta a história de Arabella Essieda, uma jovem escritora londrina com ascendência ganesa, que, após uma balada, acorda com um ferimento no rosto e lembranças confusas. Logo ela percebe que foi vítima de um estupro após ser dopada. A partir daí, se inicia mais que uma busca pelo culpado, mas também um processo de enfrentar o trauma e tentar seguir com a vida ao lado de seus melhores amigos, a atriz Terry Pratchard (Weruche Opia) e Kwame (Paapa Essiedu).
A trama passa da comédia ao drama em questão de segundos, algumas cenas são bem pesadas, trazendo inúmeros gatilhos sobre consentimento/abuso sexual naturalmente, girando em torno de um roteiro afiadíssimo e atuações brilhantes. As marcas carregadas por ela são tão profundas que nenhuma situação é fácil: seja buscar os culpados e a polícia, entender seu sentimentos e contar as pessoas próximas, contrastando com a descoberta de não ter o apoio quando realmente precisava.
Além de trazer um tema forte, nada soa gratuito em “I May Destroy You” e a série acaba se tornando também uma crítica sobre machismo e masculinidade tóxica e o quanto afetam a vida de toda a sociedade. Da mesma maneira, é um retrato ácido sobre a geração “blogueira” e faz uma análise das relações superficiais e aponta como relacionamentos caminham para o abuso psicológico rapidamente. Presenciamos também flashbacks incríveis pra entender o caminho emocional de cada personagem, muita representatividade pelo elenco quase majoritariamente negro, empoderamento feminino e um último episódio catártico e poético, que traz uma forma surpreendente de transpassar traumas íntimos.